É noite de Natal. A casa está silenciosa. Até o ruído da lareira se extinguiu. As brasas ainda acesas brilham no gabinete escuro. Meias vazias foram penduradas na toalha que cobre a lareira. A árvore se encontra num canto, também vazia. Cartões natalinos, enfeites e lembranças fazem com que a noite de Natal recorde o Dia de Natal.
É noite de Natal. Que dia foi aquele! Chá condimentado. Comidas gostosas. "Obrigado, muito obrigado." "Você não precisava!" "Vovó está no telefone." Papel de presente aos montes. "Serve certinho." Flashes. Fotos.
É noite de Natal. As meninas estão na cama. Jenna sonha com seu Pássaro falante e agarra sua bolsa nova. Andréia dorme com seu pijama novo.
É noite de Natal. A árvore que apenas ontem crescia de um solo feito de presentes, cresce agora em seu receptáculo natalino. Os presentes passaram a ser possessões. O papel de embrulho já foi atirado na lata de lixo. Os pratos foram lavados e os restos do peru aguardam os sanduíches da próxima semana.
É noite de Natal. Os últimos cantores apareceram no noticiário das dez horas. 0 último pedaço da torta de maçã foi comido por meu cunhado. E o último dos álbuns de Natal foi guardado depois de ter tocado obedientemente suas canções anuais sobre castanhas, Natais brancos e renas de nariz vermelho.
É noite de Natal.
Meia-noite já bateu e eu deveria estar dormindo, mas estou acordado. Me mantenho desperto por causa de um pensamento surpreendente. O mundo estava diferente esta semana. Ele foi temporariamente transformado.
O pó mágico do Natal brilhou nas faces da humanidade muito brevemente, lembrando-nos do que vale a pena possuir e como deveríamos ser. Esquecemos nossa compulsão de vencer, seduzir e guerrear. Pusemos de lado nossas escadas de acesso social e nossos livros contábeis, penduramos nossos cronômetros e armas. Descemos de nossas montanhas russas e pistas de corridas e olhamos em direção da estrela de Belém.
É a época de alegrar-nos, porque mais do que em qualquer outra ocasião pensamos Nele. Mais do que em qualquer outra ocasião, seu nome está em nossos lábios.
E o resultado? Durante algumas horas preciosas nossos anseios celestiais se mesclam e nos tornamos um coro. Um coro variado de estivadores, advogados, imigrantes ilegais, donas-de-casa, e milhares de outras pessoas peculiares que se perguntam se esse mistério de Belém é na realidade uma realidade. "Venham e olhem para ele" cantamos, despertando até o mais adormecido dos pastores e mostrando-lhe o Cristo-menino.
Por algumas horas preciosas Ele é contemplado. Jesus Cristo, o Senhor. Os que passam o ano sem vê-lo, de repente o vêem. Pessoas acostumadas a usar o seu nome em vão, fazem uma pausa para louvá-lo. Olhos agora livres dos antolhos do "eu", se maravilham com a sua majestade.
Num momento ele está em toda parte.
No sorriso do soldado que dirige o carro cheio de presentes para o orfanato.
No olhar alegre do garçom de Taiwan ao contar de sua próxima viagem para ver os filhos.
Na emoção do pai que fica grato demais para poder terminar sua oração à mesa.
Ele está nas lágrimas da mãe quando ela dá as boas-vindas ao filho que chegou de longe.
Ele está no coração do homem que passou a manhã de Natal entregando aos necessitados sanduíches frios e votos calorosos de Natal.
E Ele está no silêncio solene da multidão que faz uma pausa em suas compras para ouvir o coro de crianças da escola elementar cantando "Lá na Mangedoura".
Emanuel. Ele está conosco. Deus se aproximou.
É noite de Natal. Em poucas horas vai começar a limpeza — as luzes vão ser tiradas, as árvores jogadas fora. O tamanho 36 vai ser trocado por tamanho 40, os preços baixam pela metade. A vida em breve voltará ao normal. A generosidade de dezembro se transformará nos pagamentos de janeiro e a mágica começará a desbotar.
Mas no momento a magia ainda está no ar. Talvez seja por isso que ainda não consegui dormir. Quero saborear o espírito de Natal um pouco mais. Quero orar para que aqueles que O contemplaram hoje procurem por Ele no próximo dia. E não posso deixar de demorar-me num pensamento fantasioso: Se Ele pode fazer tanto com orações tão tímidas oferecidas tão desajeitadamente em dezembro, quanto mais Ele poderia fazer se pensássemos Nele todos os dias?
Max Lucado
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